quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Ahmadinejad

O ano era 2005. O Butão saíra recentemente de uma guerra civil e todos estavam ainda atormentados por anos de carnificina. No dia 23 de março o presidente do Butão ligou e insistiu que eu o encontrasse. Eu recusara aquele encontro duas vezes, a terceira poderia custar a minha vida. Aceitei e na mesma noite o encontrei no Hilton. O mundo todo tem um Hilton. O presidente do Butão era um sujeito bonachão, divertido até. Pediu-me que sentasse e começou a falar em português arrastado. "Você precisar fazer missão perrigosa". Eu sempre soube que quando ele dissesse isso minha vida estaria por um fio. Ele disse. A missão resumia-se em entrar no Irã e criar as condições para que um prefeito desconhecido galgasse os degrais do maior posto do país, a presidência.

Mahmoud Ahmadinejad nasceu na cidade de Garmsar, no norte do país, e eu sabia que era para lá que eu devia ir. Cheguei ainda na madrugada. Alguns poucos homens fizeram cara feia e torceram o nariz quando eu lhes perguntei sobre Ahmadinejad. Não sabiam quem era. Depois de muito tempo percebi que minha tarefa nao seria fácil. "Diabos, ninguém o conhece. Como querem o cara presidente?" Eu sabia que em pouco tempo pipocariam as eleições presidenciais. Encontrei um hotel e descarreguei minhas malas. Dormi quase o dia inteiro. Acordei as 16:00h. É infernal o calor naquela região, por isso quando vemos no Brasil imagens daqui, sempre aparecem pessoas suando. Deviam sentir também o fedor.

Naquela noite fui ao Grants. Encontrei Ahmadinejad bebendo sozinho. Não imaginava como aquele homem poderia um dia vir a se tornar presidente, mas encarei o desafio. Ele desconfiou da abordagem e disse em curdo: "Io no querrrer nada de prresidente de irrã. Eu serr gente simples. Você me deixarrr em paz senão eu matarrr vocçê de facada e tirrrro." Na minha profissão muitas vezes se encontra esse tipo arrogante de sujeito. Olhei fundo em seus olhos e disse. "Pouco me importa se vou morrer agora. O que eu sei é que você vai sair comigo por aquela porta e se preparar como um homem pra vencer as eleições. Depois disso pouco me importa o que você queira fazer". Ahmadinejad percebeu quem estava no comando e fomos juntos ao Hotel Xanadú. Para se fazer um presidente em tão pouco tempo tem-se que dispor de recursos caros. Ahmadinejad ganhou uma suíte no décimo andar do hotel mais badalado da cidade. Além disso comprei-lhe roupas e relógios caros, uma corrente de ouro e nela um pingente com as suas iniciais, M.A.

No dia seguinte começou seu treinamento. Aulas de sobrevivência no mato, tiro e luta corporal. Se Ahmadinejad pretendia se tornar um líder, precisaria aprender a fazer de tudo. Em dois meses ele seria um novo homem. Aquela figura patética que eu encontrara no Grants aos poucos dava lugar a um homem bruto, rude, uma máquina de matar. Era fascinante vê-lo sentar-se à mesa como uma troglodita. Seus modos rudes e rebuscados faziam parte da liturgia do cargo. Eu sabia que em pouco tempo ele estaria preparado para disputar as eleições presidenciais. Continua...

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