O Mundo é Cão. Ontem, voltando para casa, atropelei um cachorro preto. Não poderia ter feito isso. O pobre cachorro preto de mancha amarelada no peito, sucumbiu em espasmos e grunhidos. Eu o confortei em seus minutos finais e orei o Nam-Myoho-Rengue-Kyo, a única oração que aprendi na vida. Relembrando o dia, lembrei ter visto outro cachorro, pequenino, desses que não dão despesas em comida e que certamente não emporcalham a casa como os cachorros grandes, estirado na rua, abandonado em seu fatídico fim. Torci o pescoço quando passei por ele e ainda soltei: Pobrezinho, tentou atravessar a BR e não chegou ao outro lado. Ou então, podia ser que estivesse faminto e procurasse encontrar de onde vinha aquele cheiro delicioso de ensopado. Morreu. Sozinho, seu pequeno corpo lá, inerte. Hoje, quando voltar para casa, talvéz o encontre lá ainda, apodrecendo ao relento. Pobre cachorro, por que não correram as ambulâncias, os bombeiros a socorrer o pobre animal desfalecido. Ok, morreu, é só um cachorro, deixem aprodrecer ao relento. Deveriam deixar a mim quando morrer, pois já menti e fiz tanto mal quanto aquele cachorro faria em dez mil vidas. Mesmo assim, não é dado a ele o direito de um enterro digno. Ahhh, balela, que enterro que nada, deixem o animal apodrecer. Os animais que nos lambem as feridas, que comem nossos restos de comida, que nos abanam o rabo quando à casa retornamos.
Morreu o cachorro preto. Eu o coloquei no banco de trás do carro e dirigi até a praia do Campeche. Lá, com as mãos, abri uma cova na areia macia e depositei seu corpo. Orei mais uma vez o Nam-Myoho-Rengue-Kyo e fui embora. O rádio do carro tocava uma música antiga, o vento do mar soprava sobre a ponte. Entrei na BR e passei pelo viaduto. O pobrezinho ainda estava lá. Sozinho. Dormi um assassino. O Mundo é cão.
(Alessandro Quadros)
quarta-feira, 24 de junho de 2009
Essa noite dormi um assassino
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